—Como nasce o seu interesse por Ricardo Carvalho Calero?
Penso que como todas as pessoas que fizemos estudos em Filologia começou polo seus estudos sobre a literatura e também no conhecimento da sua Gramática. Daquela eu não sabia que também era autor literário até que dei com um exemplar de Pretérito imperfeito, a sua antologia de 1927-1962, num alfarrabista. Gostei e posso dizer que segui mercando os seus livros e que esses livros me trouxeram até aqui. Polo meio ainda dediquei à sua obra os trabalhos de fim de grau e algum mais do mestrado, também unidades didáticas no curso de formação de professorado.
—Como deu com esse inédito do autor?
Ao longo da tese, que é uma edição da poesia completa, reunira já umas 50 entradas, entre livros, revistas… e o último passo era ir à sua biblioteca pessoal, que está no Parlamento Galego por mão de Pilar García Negro. Ainda hoje não está catalogada por completo e é uma loucura o caos que ali há. Depois de dar muitas voltas atopei lá mais de cem versões alternativas de poemas, trinta poemas inéditos e, a mais, este poemário composto de 61 poemas, 39 deles também completamente inéditos.
—Fale-nos mais desse achado.
O seu título é Feixe levián e leva as datas de 1934-1948. Fora enviado a Buenos Aires ao certame do Centro Gallego. Disto há várias referências na correspondência com Francisco Fernández del Riego: nunca menciona o título, mas sim o tamanho do pacote que enviou. É um pacote que não se corresponde com outras obras que foram premiadas depois como a obra de teatro O filho e sim parece ser este Feixe levián. É uma obra da que depois recicla alguns poemas: tem cinco partes e da primeira e da segunda há vários poemas que apareceram em Poemas pendurados de un cabelo (1952) e um poema que sairá em Salterio de Fingoi (1961), mas o resto apareceram em revistas ou são inéditos. Entre eles aparece também um que publicou Pilar García Negro em Sermos Galiza no 2015 depois de atopá-lo no arquivo de Cunqueiro, pero aqui com um título que não figurava e com a data de que foi escrito em 1934.
—Poderemos ler esses inéditos?
Falei com Maria Victoria Carballo-Calero para ver de publicá-lo e deu-me licença. Pensei então em Miguel Anxo Fernán Vello que já me tinha comentado que queria publicar a obra completa e alegrou-se muito de saber que aparecera um poemário inédito e mostrou-se feliz de publicá-lo também. Sairá com Espiral Maior, seguramente já em 2023, pois ainda queda trabalho e há partes ainda por descifrar: está mecanografado, pero a tinta deixou alguns borrões. Como curiosidade, sabemos pela sua correspondência que foi escrito com uma máquina de escrever emprestada e que esta seria a quarta cópia, as outras foram enviadas ao certame da Argentina e não as conservamos.
—Foi injusto que a Real Academia não prorrogasse o Dia de Carvalho Calero depois da pandemia?
Acho que faltaram muitas coisas, embora houvesse obras interessantes, e há muitos coletivos e pessoas que reclamaram mais um ano, igual que aconteceu com outras homenagens. Também o tratamento institucional e editorial foi melhorável: reeditar a primeira versão de A gente da Barreira (1951/1982) e não a que ele revisou antes de morrer é um desrespeito. Sobre tudo quando a mesma editora eligiu reeditar as últimas versões doutras obras.