Centenário de Fernando Namora

A Casa Museu Fernando Namora inicia hoje, com a presença do Presidente da República, os actos comemorativos do nascimento de Fernando Namora.

"Este é um dia importante para Condeixa e para os condeixenses", disse à agência Lusa o presidente da autarquia de Condeixa-a-Nova, Nuno Moita da Costa. Trata-se de homenagear a título póstumo "um condeixense de referência e um escritor muito actual, pela forma como aborda na sua obra o mundo rural e o mundo urbano", salientando que a visita do Presidente da República "acrescenta valor à iniciativa". Marcelo Rebelo de Sousa é esperado na Casa-Museu Fernando Namora às 15:00 deste 15 de abril para inaugurar um painel de azulejos evocativo dos 100 anos do nascimento do escritor.

 

Fernando Namora nasceu em 15 de abril de 1919 em Condeixa-a-Nova, no distrito de Coimbra e faleceu em Lisboa a 31 de Janeiro de 1989. Na sua biografia aparece como pertencente  à geração de 40, grupo que reuniu personalidades marcantes como Carlos de Oliveira, Mário Dionísio, Joaquim Namorado ou João José Cochofel.

 

O seu volume de estreia foi Relevos (1937), livro de poesia, porventura sob a influência de Afonso Duarte e do grupo da Presença. Mas já publicara em conjunto com Carlos de Oliveira e Artur Varela, um pequeno livro de contos Cabeças de Barro.

 

Ainda estudante e com outros companheiros de geração funda a revista Altitude e envolve-se activamente no projecto do Novo Cancioneiro (1941), colecção poética de 10 volumes que se inicia com o seu livro-poema Terra, assinalando o advento do neo-realismo, tendo esta iniciativa colectiva, nascida nas tertúlias de Coimbra, de João José Cochofel, demarcado esse ponto de viragem na literatura portuguesa.

 

Terra

Onde ficava o mundo?

Só pinhais, matos, charnecas e milho

para a fome dos olhos.

 

Para lá da serra, o azul de outra serra e outra serra ainda.

E o mar? E a cidade? E os Rios?

Caminhos de pedra, sulcados, curtos e estreitos,

onde chiam carros de bois e há poças de chuva.

Onde ficava o mundo?

Nem a alma sabia julgar.

 

Mas vieram engenheiros e máquinas estranhas.

Em cada dia o povo abraçava outro povo.

E hoje a terra é livre e fácil como o céu das aves:

a estrada branca e menina é uma serpente ondulada

e dela nasce a sede da fuga como as águas dum rio

 

A sua obra, em termos de correntes literárias, evoluiu no sentido dum amadurecimento estético do "neo-realismo", o que o levou a enveredar por caminho mais pessoal. Não desprezando a análise social, a sua prosa ficou marcada, sobretudo, pelos aspectos do burlesco, observações naturalistas e algum existencialismo

 

Colaborou com várias publicações periódicas, como Sol Nascente, O Diabo, Seara Nova, Mundo Literário, Presença, Altitude, Revista de Portugal, Vértice, entre outras.

 

É Autor de várias colectâneas de poesia e de uma pouco conhecida obra como artista plástico, é sobretudo como ficcionista que o nome de Fernando Namora marca a literatura portuguesa contemporânea, tendo granjeado um sucesso a nível nacional e internacional  e que, durante os anos 70 e 80, foi das mais divulgadas e traduzidas.

 

O romance Domingo à Tarde foi adaptado ao cinema por António de Macedo em 1966 e de Retalhos da Vida de um Médico foi feita uma série televisiva.

 

A presença de Namora e sua obra na Galiza não foi muito além das referências a alguns dos seus romances. El Pueblo Gallego, de 5 de agosto de 1955. dá notícia de seu ingresso na Academia das Ciências, assim como do prólogo escrito por Gregorio Marañón para a tradução espanhola de Retalhos da vida de um médico. A sua produção literária foi analisada, mais pormenorizadamente, pelo professor da Sorbona José Da Silva em agosto de 1964 durante o III Curso Hispano-Português de Ourense.

Os actos do centenário que hoje começa continuam até 15 de abril de 2020.