Lídia Mathe e a 'Outra parte de mim'
Lídia Mathe é uma poeta moçambicana que se define como autêntica voz africana. Vive no corpo de Lídia Uanga, mulher empenhada, nascida para abrigar e tomar.
Lidia Uanga é uma mulher nascida em Moçambique em 1988 mas quando escreve ela deixa de ser Lídia Uanga para se tornar em Lídia Mathe. Começou a escrever muito jovem mas é agora que publica seu primeiro livro: Outra parte de mim.
- Obrigado por aceitar o convite de Sermos Galiza. Por que escreve?
- Escrevo porque ela se deita em mim e prende-me.
- Ela?
- Tudo adiantou e esgotou. Até o silêncio tem som em mim e se deita em tudo o que penso e vejo. Já não sei e nem aguento sem ela. Sou replica dela. Por isso escrevo
- Mas, diga-me, quem é Lídia Mathe?
Lídia Mathe é uma das vozes poéticas autênticas que identifica África.
- … e o que devemos entender por “autêntica”?
Devemos entender que tenho uma identidade nacional. Ainda que escolher é um principio, ser escolhida é um fim.
- E quem é Lídia Uanga?
- É uma mulher empenhada, nascida para abrigar e tomar.
- Qual delas é a outra parte?
- (Não há resposta)
- No próximo mês será o lançamento do seu livro Outra parte de mim. Que parte sua poderemos ver nesta publicação?
- A outra parte de mim é composta por traços fermentados e profundos, em poucas linhas. A outra parte de mim foi parida por uma inovação e invenção de poemas que despem (apresentam) meus gozos, minhas dores, anseios, realizações, construção, desconstruções, fantasmas e lágrimas. A outra parte de mim é uma anárquica poeta.
- Já tem um roteiro promocional do livro fora de Moçambique, não é?
- Sim, já tenho. No dia 18 em Angola, no dia 2 em Cabo Verde e no dia 4 em Portugal.
- Qual o nível de difusão da literatura moçambicana no mundo?
- A literatura Moçambicana tem representantes que se percebem em todo mundo. Alguns dos quais passo a citar: Paulina Chiziane, Rui de Noronha, Mia Couto, Hungulani Bakakhosa. Entre outros. Olha que os escritores emergentes produzem obras bem colocadas na sua nacionalidade. E belas, muito belas. Estes priorizam a necessidade de as promover e em algumas situações a não promoção deve-se a falta de meios.
- José Luís Mendonça, escritor angolano diz: “Um escritor que tenha projeção em Lisboa, o centro difusor, consegue ter traduções na Alemanha, na Inglaterra e na América… Acha correta a afirmação? Comparte?
- J. L Mendoça deve estar certo do que disse. Mas eu considero que quem pertence aos céus não tem fronteira.
- Por sua parte, Inocência Mata fala de uma outra variável: para ter sucesso em Lisboa, e a seguir no Brasil, o escritor africano, para além de ser um bom escritor, uma boa escritora, tem de ser branco, ou mestiço. Concorda com essa apreciação?
- Não, porque o que escreve não é a cor.
- Poderia recomendar para os leitores de Sermos Galiza três livros da literatura moçambicana?
- Sim. 'Outra parte de mim', da Lídia Mathe; 'Niketche', de Paulina Chiziane, e 'O voo do flamingo', de Mia Couto.
- Escreva algo para os leitores e as leitoras de Sermos Galiza.
- A gravata do poeta
É um anzol
Em qualquer lugar
Pesca
A sua rede pode amar
Lídia Mathe
Obrigada