Niño dañino / Niño daniño / Ninho daninho

Com o submetimento político sofrido pola Galiza no fim do séc. XV, o cuco castelhano pujo um ovo cultural no solar galego que tornou este em ninho daninho para a nossa língua: esse ovo foráneo intrometido, após longa latência e incubaçom, no séc. XX eclodiu e fijo irromper no ninho galego um vigoroso niño dañino, um agressivo filhote de cuco castelhano que agora ameaça com expelir do lar nativo e liquidar o idioma galego, legítimo pitinho do casal de piscos autóctones construtores do ninho. Neste ninho daninho, um fator que desde os decénios finais do século passado empece de forma insidiosa e brutal a afirmaçom do galego é a sua menorizaçom ortográfica, que lhe impossibilita umha emancipaçom formal e funcional a respeito do castelhano. Tal menorizaçom deriva da adoçom oficialista na Galiza das normas ortográficas da RAG(=ILG) de 1982, continuadoras sem substancial correçom dos usos gráficos espúrios que fôrom maioritários entre os galeguistas do séc. XIX e dos inícios do XX, decalcados do castelhano, improvisados em condiçons filológicas precárias e historicamente disruptores. Nesta peça e na sua sucessom, imos analisar tal menorizaçom do galego, reparando, primeiro, na natureza das normas ortográficas oficialistas (§1) e, a seguir, nos seus efeitos nocivos (§2). Disfuncionalidade gráfica A ortografia da RAG(=ILG) para o galego é essencialmente a castelhana atual. Isto se evidencia em que, com muito escassas exceçons, as letras, os sinais auxiliares da escrita e os seus usos som coincidentes entre as duas. Esta subordinaçom e mimetismo gráficos do galego RAG=ILG som tam intensos que incluem elementos que se revelam peculiares, exclusivos e até simbólicos da ortografia castelhana atual e/ou que nom se adequam àquilo que seria conveniente numha ortografia genuinamente galega: a) Representaçom de fonemas palatais com as soluçons ch, ll e ñ, o que é muito servil, porque, se o ch provençal está presente também em luso-br. e em diversas línguas, já o ll e o ñ nascêrom em cast. e respondem ao seu particularismo: só em cast., mas nom em gal-port., a duplicaçom etimológica do l e do n —que fai surgir, respet., o dígrafo ll e o grafema ñ— origina no vernáculo os respetivos fonemas palatais (ex.: lat. stella &gt; cast. estrella, lat. canna &gt; cast. canna &gt; caña [o til do ñ surge a partir do segundo n, reduzido e encimado] / lat. stella &gt; gal-port. estrela, lat. canna &gt; gal-port. cana); b) É peculiar da ortografia cast. moderna, e contrastante com a gal-port. e com a de diversas línguas románicas, umha distribuiçom largamente etimológica do b e do v, que a RAG(=ILG) transfere para o galego (ex.: gal-cast. cabalo/gal-port. cavalo, libre/livre, libro/livro, pobo/povo); c) É exclusivo do cast. o uso de sinais invertidos de interrogaçom e de exclamaçom (¿¡), obrigatórios na ortografia RAG=ILG até à reforma de 2003; d) É peculiar do cast. um uso do hífen muito parco, que a ortografia RAG=ILG imita, nem sequer incluindo a uniom com hífen de pronomes enclíticos à forma verbal (como em luso-br. e em catalám); e) Tipo de acentos e sua distribuiçom como em cast., com ausência na ortografia RAG=ILG de acentos específicos para marcar o timbre vocálico, em correpondência com a inexistência em cast. de oposiçom fonológica entre vogais abertas e fechadas (em contraste com o luso-br., fr. e cat.)... A ortografia da RAG(=ILG) para o galego é essencialmente a castelhana atual Infelizmente, a ortografia RAG=ILG aparta-se da castelhana (rara exceçom!) num aspeto em que a coincidência com ela si seria natural e benéfica para o galego: a representaçom etimológica do fonema /ʃ/ (ex.: já, gente, giro, peixe). Aí, a grafia oficialista, continuadora de umha opçom ditada, no fundo, pola subordinaçom ao cast. (vontade de se evitar na Galiza qualquer "contaminaçom" entre as línguas no relativo à leitura do j e do g), comporta-se de forma aberrantemente antietimológica e usa, em vez de j e de ge/gi, sempre x (xa, xente, xiro, peixe)! Este alvitre gráfico, anómalo, isola o galego do luso-br. e da generalidade das línguas europeias (Xeoloxía!) e, como veremos, acarreta para o nosso idioma disfuncionalidade. Para cúmulo de males, diga-se que a condiçom essencialmente castelhanizante dessa hipertrofia do xis é gato escondido com o rabo de fora: a subordinaçom deixa-se entrever em palavras como guerra ou guitarra, pois, nom se usando nas normas oficialistas ge e gi para representar /ʃe/ e /ʃi/, tais vocábulos deveriam escrever-se, no galego RAG=ILG, por pura lógica e nom mediando servilismo ao cast., sem u: gerra e gitarra (cf. letra "guê"; al. Gitarre, êusc. Agirre). Como nalgumha ocasiom dixem, foi, por sinal, a descoberta pessoal de tal "rabo de gato", de enorme explosividade, que, de início, me encaminhou para o reintegracionismo.