Mia Couto, Honoris Causa
O escritor moçambicano Mia Couto, vencedor do Prémio Camões em 2013, disse, quarta-feira, em Maputo, num acto em que foi distinguido com o título Doutor Honoris Causa, que o país não é um quintal privado para ser dividido entre os partidos políticos.
O escritor foi distinguido com o título Doutor Honoris Causa em Humanidades na especialidade de Literatura pela Universidade A Politécnica, a primeira instituição privada de ensino superior em Moçambique. O escritor é o autor moçambicano mais traduzido e divulgado no estrangeiro, com um acervo literário que inclui poesia, contos, romances e crónicas.
No discurso proferido na ocasião, que podemos seguir na íntegra na Folha de Maputo, Mia Couto abordou a instabilidade política em Moçambique, afirmando que o povo jamais deveria ser usado como carne para canhão.
"Não nos usem como carne para canhão, não servimos de meio de troca", disse. "Todos os povos amam a paz e os que passaram pela guerra sabem que não existe um valor mais precioso. Os que ameaçam a paz falando da guerra devem saber que aquele que está a ser ameaçado não é apenas o Governo mas sim todo o povo", afirmou o escritor, para de seguida frisar que "pode não ser este o lugar, mas quero que os homens das armas escutem o seguinte: não nos usem como carne para o canhão".
"Os donos das armas precisam perceber que nós merecemos todo respeito e merecemos viver sem medo"
"Quem quiser fazer política que faça política, mas que não aponte uma arma contra o futuro dos nossos filhos". "Os donos das armas precisam perceber que nós merecemos todo respeito e merecemos viver sem medo", enfatizou o autor de Terra Sonâmbula no evento a que esteve presente o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, e o antigo chefe de Estado Joaquim Chissano.
"Quero aprender, com todos nós, a ser um país que não exclui, ou seja, queremos um país que assume as suas diferenças e diversidades", disse.
O apelo de Mia Couto em defesa da paz surge numa altura em que Afonso Dhlakama, líder da Renamo, o maior partido da oposição em Moçambique, acaba de endurecer o seu discurso e ameaça tomar o poder pela força
O apelo de Mia Couto em defesa da paz surge numa altura em que Afonso Dhlakama, líder da Renamo, o maior partido da oposição em Moçambique, acaba de endurecer o seu discurso e ameaça tomar o poder pela força nas seis províncias do centro e norte do país onde reivindica vitória nas últimas eleições gerais, realizadas a 15 de Outubro de 2014. Há cerca de duas semanas, Dhlakama anunciou o abandono do seu partido do diálogo político com o governo, que vinha decorrendo há cerca de dois anos, sem avanços significativos.
Mia Couto, distinguido com diversos prémios literários, foi entrevistado por Elías Torres para o número 61 do semanário Sermos Galiza