Dous nacionalismos: Ulster e Escócia

O resultado das eleições britânicas, que se traduziu numa maioria laborista apesar do seu pequeno aumento do voto popular, escondeu os resultados muito desiguais dos principais partidos nacionalistas que operam no Reino Unido. O nacionalismo escocês, representado pelo SNP, sofreu um grave revés e passou de quase hegemónico a um grande atraso em relação à esquerda inglesa. Ficou com apenas metade dos votos, e isto estando no governo. Entretanto, no Ulster, os resultados foram muito diferentes e o Sinn Féin não só manteve os seus lugares e aumentou os seus votos, como também esteve muito perto de aumentar a sua representação parlamentar. Ambos são nacionalismos de esquerda moderada, o que significa que competem em termos de votos com a esquerda laborista, pelo que seria necessário tentar explicar as razões de um resultado tão desigual. 

O nacionalismo irlandês representa um nacionalismo de esquerda tradicional, do tipo que existia anteriormente, preocupado com a política social e as medidas de austeridade. Ao mesmo tempo, é uma força que não se preocupa com a política britânica e, embora aceite o escanho, nunca o ocupa, seja qual for o governo de Londres. Ou seja, não vota para tirar os conservadores do poder ou para impedir a direita de governar; preocupa-se simplesmente com o governo do Ulster e com os conselhos locais que pode controlar. É também um partido confessional, que retira grande parte da sua força da comunidade católica que representa, ou seja, procura aliar-se a todas as forças sociais que possam contribuir para a sua causa. Ainda me lembro do que me disseram alguns amigos meus, membros da esquerda independentista galega, quando visitaram o Ulster há alguns anos e entraram num local do Sinn Fein. Ficaram horrorizados ao ver que uma grande fotografia do Papa estava bem visível nas instalações. E não era o Papa que temos atualmente. Era um dos que havia antes.

O escocês é também um partido esquerdista, mas da esquerda que temos hoje, poderíamos dizer, influenciada pelos valores pós-modernos que vêm dos campus universitários americanos. O problema é que o pós-modernismo se enquadra mal nos valores nacionalistas clássicos e contribui para diluir a consciência nacional entre muitas outras identidades, fazendo-a perder a sua capacidade de mobilização social, desviando as suas forças para outros problemas que não os nacionais. De facto, grande parte das disputas internas no partido e as sucessivas demissões dos seus dirigentes têm muito a ver com debates deste tipo, que provocam também a divisão entre membros e quadros do partido.

Num país tão inglesizado como a Escócia, embora possa parecer o contrário, a introdução de causas que não têm a ver com a questão nacional tende a ser politicamente letal. É claro que não se trata de um partido que se afaste da política parlamentar britânica e o partido está presente nos debates políticos britânicos. Oposto aos sucessivos governos conservadores até que finalmente conseguiu que os laboristas, que lideraram a campanha do "Não" no referendo sobre a independência de há alguns anos, entrassem no governo britânico e, em breve, se os resultados não se alterarem, também no governo escocês.

Depois de termos visto os dois nacionalismos, penso que seria útil discutirmos qual o modelo de nacionalismo que queremos para nós.