Para uma Europa dividida

As eleições para o Parlamento Europeu realizar-se-ão dentro de poucos dias e estão a ser debatidos todo tipo de importantes assuntos, mas raramente se discutem as políticas que o futuro Parlamento e a Comissão Europeia deverão levar a cabo nos próximos cinco anos. Nem a transição energética, nem a política agrícola, nem a política monetária são objeto de um debate aprofundado, nem na campanha dos partidos, nem nos meios de comunicação social. Também não é claro quem são os verdadeiros candidatos à presidência da Comissão, por mais debates que conduzam, que não serão decididos nestas eleições, mas nos gabinetes dos chefes de estado.

A discussão sobre a pertinência ou não do atual modelo europeu é ainda menor, e menos ainda entre os nacionalistas galegos. Há alguns dias, a senhora Mandiá alertou nestas páginas, com razão, para o declínio relativo da Europa nas últimas décadas, apesar de estar politicamente unida e de ser um exemplo para o mundo em muitos aspectos. A questão que se deve colocar é se esse declínio não se deve ao facto de estarmos politicamente unificados, mas, pelo contrário, se não é "graças" a esse processo de centralização política. Os defensores deste processo de unificação, erradamente designados por europeístas, porque a Europa nunca teve um governo único na sua história algo que é totalmente alheio à sua cultura, salientam que a UE é a base da atual paz entre os Estados europeus e um dos fundamentos da sua atual prosperidade económica. Parecem esquecer que há outras regiões do mundo, outrora envolvidas em guerras, que vivem em paz há décadas sem se envolverem em processos de unificação política, porque simplesmente compreenderam que a guerra não é uma boa solução. Confundem também a atual UE com o que era conhecido como Mercado Comum Europeu, instituições que, apesar de sucederem-se no tempo, respondem a lógicas diferentes.

A UE é a tentativa de criar um Estado europeu a partir dos antigos Estados-nação europeus, ao passo que este último, que foi quem teve verdadeiro êxito, consistia em acordos sobre a livre troca de mercadorias e a livre circulação de pessoas e capitais, mas sem tentar criar novas superestruturas políticas para além das existentes. A UE enquanto tal existe há cerca de 30 anos e o seu resultado mais visível, e também um dos mais discutíveis, é a criação do euro, uma vez que outras liberdades, como a circulação de pessoas ou de mercadorias, já tinham sido alcançadas. Desde então, iniciou um processo de alargamento aos países da antiga Europa de Leste, um processo que parece não ter fim, mas que sofreu o abandono do Reino Unido, um dos seus principais membros.

Trinta anos após a sua criação, as realizações prometidas na sua origem já deveriam ter sido concretizadas, quer sob a forma de crescimento económico e inovação, quer sob a forma de um aumento da influência europeia no mundo. Mas parece que o gigante burocrático europeu só é capaz de redigir bem os regulamentos, mas não de inventar os bens ou serviços a regulamentar. A sua influência no mundo é nula, nem sequer é capaz de influenciar o seu espaço vizinho, ou seja, a Rússia ou Israel, para que ponham fim às respectivas guerras. O euro não se transformou numa moeda de reserva mundial, sem sequer prejudicar o papel do dólar, e o crescimento económico estagnou durante anos, perdendo peso relativo mundial a passos largos. O historiador Eric Jones escreveu, há anos, que o sucesso da Europa se deveu, em grande parte, à sua pluralidade de Estados, que, em tempos, chegaram a ser várias centenas de unidades políticas. Talvez seja altura de recuperar o génio da Europa.