Vox enfraquece o movimiento independentista catalão

A política parlamentar é, por definição, um jogo de soma zero, uma vez que se disputa um número estabelecido e inalterável de escanhos, que depois se transforma em maiorias governativas, com ou sem pactos. Qualquer alteração na distribuição ou nas relações entre os grupos afecta, em maior ou menor grau, todos os grupos representados, independentemente de terem ou não uma relação direta com o movimento.  Isto é relevante porque o facto de a Vox romper com os seus parceiros do PP espanhol pode ter consequências não intencionais para outras forças políticas que, em princípio, nada têm a ver com ela, ou são mesmo antagónicas. Além disso, é um dos movimentos estratégicos que poderá ter maior influência potencial no mapa político a médio prazo, e não apenas no domínio da direita, mas também no do nacionalismo. Acabámos de ver em França como, na sequência de alterações eleitorais, os macronistas acabaram por ter de votar em Bildu e os nacionalistas bascos e em candidatos da esquerda jacobina francesa.
 À primeira vista, não parece ser mais do que uma disputa entre forças aliadas no espetro da direita sobre a questão da migração, mas tudo aponta para o facto de que o que Abascal procura é um pretexto para romper com o PP, de modo a que a reconciliação não seja possível a curto prazo, pelo menos a nível estatal ou regional, e isso parece ter sido conseguido. O problema reside agora nas forças independentistas, especialmente no Junts, que vêem a sua capacidade de pressão sobre o Governo espanhol seriamente enfraquecida. A imensa força que os meios de comunicação social pró-espanhóis atribuem às forças nacionalistas catalãs é muito menor do que pensam, se é que têm alguma, uma vez que, para além das concessões simbólicas, das amnistias ainda não concluídas ou de algumas dotações orçamentais, pouco se avançou no domínio do reconhecimento nacional catalão, e não se avançará, dada a fraqueza que as suas forças estão a demonstrar. A deriva de Vox acrescenta duas coisas a esta situação: em primeiro lugar, a atual incapacidade de propor uma censura a Sánchez, pois duvido que Abascal vote em Feijoo como presidente, e, em segundo lugar, uma maior proximidade entre Feijoo e Sánchez sob a forma de pactos, incluindo questões controversas. A suposta força do nacionalismo reside na suposta divisão dos principais partidos sistémicos, uma divisão que não existe na prática. Ambos partilham as mesmas posições sobre a economia, o atlantismo militar, a União Europeia (a cal governam em conjunto), política energética ou a questão nacional, já que ambos são autonomistas. Se as coisas se tornarem sérias, simplesmente concordam, lembremos o 155, e tornam desnecessário o envolvimento de terceiras forças, nacionalistas, de direita ou de esquerda. A força que Puigdemont poderia ter é a que o PP lhe deu ao não querer fazer um pacto com Sánchez, mas assim que o quer fazer, desaparece, como é o caso. Com a dissolução do Vox, nem sequer precisam de fingir que precisam de Puigdemont, pois o PP torna-se uma força “republicana”, para usar o símile francês.  Só faltaría co tempo a ver os Junts e os outros nacionalistas a apoiarem, como na França os candidatos do PP, por medo da extrema-direita, para ver a deriva final do independentismo catalão.