O relato de verán: O misterioso cavalheiro (II)

Repetim a pergunta, agora com mais volume e menos paciência: ―Que como te chamas, oh!? Mas ele seguia sem entender. ―Eh!? Nom entendo a pergunta... eh! Que? Nom entendo a pergunta que me fas! ―A que te adicas, caralho?? Perguntei-lhe desta volta e ele respostou: ―A olhar como vam as nuvens e as moscas polo céu. A fazer rosários com as tarolas que saco do nariz. A contemplar como mudam os semáforos de cor… verde, laranja… laranjalaranjalaranja… vermelho… verde, laranja… laranjalaranjalaranja… vermelho! E tamém, os domingos pola tarde, boto mijadas nos furados onde habitam os grilos. Eu perguntei-lhe se isso, economicamente era rendível e ele respostou que ademais tinha umha paga. Eu, indiscretamente, consultei-lhe: ―E, conta-me misterioso cavalheiro, a que é devida, a tua paga? Más ele, nom queria respostar. Ofendeu-lhe a minha consulta e começou a bater com o seu caralho contra a esquina da mesa, chegando a derreter o verniz… o verniz da mesa, o caralho nom o tinha envernizado. Tras tentar razoar uns minutos com o misterioso cavalheiro deduzim o porqué daquela sua merecida paga e deduzim, ademais, que devia cobrar bastante. Mas nom me importava, pois sobravam as palavras! Entom o cavalheiro misterioso quitou a sua dentadura postiça, pousou-na na mesa… e trás colher alento profunda e sincronizadamente, as nossas bocas juntárom-se como duas ventosas das que desatascam cagadeiros, fundindo-nos num apaixonante beijo. O beijo durou três horas e vinte e cinco minutos. Deduzim, durante este apaixonante tempo que o misterioso cavalheiro, nos anteriores dias, comera fígado encebolado, churruscos, churrascos e sardinhas de lata. A mim já me sangravam as gengivas quando o camareiro colheu o ferro de baixar a persiana e baixou-na timidamente… era umha maneira discreta de dizer-nos que tinhamos que marchar mas nós, eramos alheios a todo aquilo, estavamos ensimesmados naquela paixom desenfreada, nada podia deter-nos, eu por nom ir ao banho e interrumpir aquel momento mágico, deixei ir a merda polas patas abaixo, mentres el suava selvagemente, parecia um camiom cisterna enxurrando… desfrutavamos como os porcos na lama quando o camareiro, com o ferro de baixar a persiana, começou a bater em nós brutalmente… rompeu-nos o ferro no lombo era umha maneira directa, de dizer-nos que tinhamos que marchar e… marchamos. O camareiro, por cousa de ser baixinho e por cousa de romper o ferro nom puido rematar de baixar bem a persiana e foi-se para casa encabronado e insultando-nos. E nós saímos à procura da intimidade que precisavamos para continuar com aquele beijo naquela noite quente… laiando como gatos na janeira, pola paixom que levedava em nós e pola tunda que vinhamos de levar. Colhemo-nos das mans e fomos ver como mudavam de cores os semáforos, incluso pola noite, quando ninguém lhes atendia, era todo tam poético… tamém construimos umhas pulseiras com tarolas, umha para ele com as minhas tarolas e outra para mim, com as suas tarolas. Mentres as nuvens voavam por aquela noite e as moscas peganhentas chuchavam nos nossos variados fluidos. Era todo tam lindo. De umha de aquelas nuvens baixou um chinês, um chinês dos que vendem rosas para namorados nas noites românticas… aterrou lentamente com o seu ramo de rosas e um sorriso enorme, chantou-se diante de nós e falou-nos: ―Tles losas, tles eulos! Compla! Compla-lhe à tua senhola! Ofelta! Eu, encabronada, tamém falei: ―Oes, por que tem que comprar-mas el a mim e nom eu a el? Machista do caralho! E eu nom som a senhora de ninguém, vou-che meter um cabeçaço que te rebento! O chinês sem deixar de sorrir, seguiu falando: ―Eu sei fazel kalate, cuidadito comigo, senhola! [ Continúa mañá ]