Mais sobre a palavra e a música: o 'Verso e acorde' de Alberto Pombo

No bar Barbería da Corunha, Rua Orçám 15, apresentou-se o livro de Alberto Pombo intitulado Verso e acorde. Relacións entre literatura galega e música pop (1950-2000), versão adaptada da sua tese de doutoramento dirigida polos doutores Xosé María Dobarro e Teresa López e à que se lhe outorgou a qualificação de Sobresaliente Cum Laude. Num tempo em que andamos a voltas com o binómio música-palavra, o livro resulta enormemente interessante e necessário. O evento foi uma festa, rompendo o tópico da tradicional seriedade nos trabalhos de pesquisa, já desde a escolha do próprio espaço, e ainda mais se a voz apresentadora é a de Xurxo Souto, sem dúvida um dos maiores comunicadores que temos no país. E que fosse Xurxo não é casual, mas todo o contrário, levando em conta os critérios de defesa do popular na criação artística onde ambos, apresentador e apresentado, coincidem de pleno. O trabalho de pescuda em hemerotecas e a procura de informação em numerosas fontes discográficas acha exemplos de literatura musicada em 209 álbuns, o que virá dar, entre 1959 e 2000, um cómputo de 962 canções a partir de 754 textos literários de 153 persoas e interpretadas por 120 solistas ou grupos musicais. Como ferramenta adicional de utilidade, o início do livro oferece um código QR onde é possível aceder a mais de 300 páginas que contêm a literatura musicada na segunda metade do século XX "sob o influxo da música pop". A obra, na verdade, deixa abertos alguns debates desde vários pontos de vista, mas também existe o mérito de arriscar, por exemplo na estrutura à hora de agrupar as diferentes vozes musicais em apartados, nomeadamente sob a epígrafe central "Do papel ao pentagrama". Assim, sem dizermos nomes, certas vozes poderiam estar juntas ou separadas nos apartados "Pop e música leve", "Cantar a puño en alto" ou "Folk e música celta", do qual o próprio autor é consciente e assim o manifesta. Mas além disso, se num trabalho investigador que nasce "ao abeiro" da filologia –como se diz no prelúdio– se reflete sobre a linha divisória, tantas vezes difusa, entre letras de canções e texto literário, isso não impede que na abordagem a solistas e grupos se cite apenas os textos "canonizados" como literários e se omitam os que são letras próprias ou não constam como literatura. Para além desta ambiguidade, aceitamos que divulgar um texto desde um soporte musical também pode mover as estruturas do canon literário convencional. O espaço não permite entrar em pormenores, o que é tentador, mas convido a uma leitura demorada e atenta num estudo feito com rigor, o que não exclui a escrita apaixonada, mesmo hiperbólica, nomeadamente quando se quer resgatar e valorizar a expressão da música popular relegada nos âmbitos académicos ("Música do campo da festa"). E não há de estranhar, pois parece ser aí, em 1959, no contexto africano das orquestras ambulantes, que se encontra o nascimento do pop em língua galega. Ler para mais saber.