Altri, novo enclave extrativo

Durante a preparação deste artigo, deparei-me com excelentes análises sobre Altri como os de Pena Beiroa ou Bernardo Valdês, publicados nestas mesmas páginas, e que me levaram a reorientar o meu escrito para evitar repetir argumentos. Portanto, abordarei de maneira breve alguns aspectos teóricos dos conceitos de extrativismo e enclaves, frequentemente interligados. Extrativismo Ao enfrentar o declínio da atividade industrial, alguns governos optam por impulsionar o desenvolvimento econômico através da extração e exportação de recursos naturais ou produtos primários, sem um planejamento sustentável a longo prazo. A desregulamentação e diversos incentivos econômicos, como fiscais e infraestruturais, favorecem o investimento estrangeiro, proporcionando-lhe lucros significativos. O extrativismo, caracterizado por processos produtivos intensivos em capital, tem um impacto limitado no emprego local, mas gera efeitos significativos na economia, sociedade e meio ambiente, incluindo degradação ambiental, falta de desenvolvimento sustentável a longo prazo e repatriação dos lucros, em vez de serem reinvestidos localmente. Isso resulta em uma alta dependência da exploração de recursos para exportação, com baixo grau de processamento de matérias-primas no país hospedeiro. Facilitar esse tipo de investimento implica renunciar à diversificação da economia e ao desenvolvimento sustentável de outras indústrias, que considere não apenas os benefícios econômicos imediatos da extração de recursos, mas também os impactos sociais, ambientais e econômicos a longo prazo. Enclaves Por sua vez, os enclaves são atividades industriais operando dentro de um território específico, frequentemente em países periféricos, onde as leis, práticas comerciais e condições políticas são favoráveis para a instalação de indústrias desconexas da economia local e controladas por corporações estrangeiras. Isolados dentro do país anfitrião, acham-se em meio do subdesenvolvimento, com impacto direto reducido na economia receptora além da criação de alguns empregos diretos e oportunidades de subcontratação, mas provocando modelos de desenvolvimento desiguais entre os enclaves e o resto da economia. Como tem destacado o professor Beiras Torrado, os enclaves representam indústrias localizadas em um território, não em sua economia, resultando no espolio de terras agrícolas, montes comunais, recursos mineiros e energéticos, prejudicando o meio ambiente e os sistemas ecológicos, desafiando o mito de que qualquer tipo de indústria implica desenvolvimento, pois na verdade, drenam o excedente econômico produzido e dificultam o desenvolvimento de uma economia autocentrada, dinâmica e diversificada, capaz de transformar e agregar valor aos recursos básicos. Enclaves representam indústrias localizadas em um território, não em sua economia, resultando no espolio de terras e recursos Conforme no extrativismo, os enclaves recebem diversos incentivos públicos, embora não se integrem à economia local, explorem recursos naturais, precarizem o trabalho e prejudiquem o meio ambiente. Na Galiza, podemos identificar importantes exemplos que se enquadram na categoria de indústrias de enclave como as energéticas, Ence, Alúmina-Alumínio ou Endesa em As Pontes, mencionadas por Pena Beiroa, e a própria ameaça de Altri. A profunda arrogância dos promotores destes projetos industriais leva à desvalorização das atividades econômicas preexistentes, como as agropecuárias. A participação cidadã nas decisões de instalação dessas indústrias é muito limitada, e as táticas utilizadas para cooptar a liderança local e negociar em favor de seus interesses incluem promessas, concessões em projetos locais, programas assistenciais clientelistas e desenvolvimento de infraestrutura de transporte apenas para atender às suas próprias necessidades. Além disso, divulgam propaganda enganosa sobre as supostas vantagens de seus enclaves industriais para dividir a oposição e enfraquecer o protesto social contra esses projetos predatórios. Em resumo, esse tipo de investimento industrial e seu efeito desintegrador sobre as economias locais causa polarização social devido a uma distribuição significativamente desigual de custos e benefícios, levando a conflitos cuja resolução depende da proporção de forças entre as partes em disputa. A Altri representa enclave e extrativismo. Rejeitamo-la e denunciamos a obstinação do governo do PP em condenar a Galiza a ser uma economia periférica e subsidiária, servindo às grandes corporações estrangeiras que se beneficiam de nossa dependência política e prejudicam nossos interesses estratégicos nacionais.