Entrevistamos Pedro Pinho

"Com o galego partilhamos a mesma língua, é só uma diferença de sotaque"

O realizador português Pedro Pinho esteve no Teatro Principal (Compostela) para apresentar o seu último filme e para participar em um colóquio dentro do festival Cineuropa. Conversamos com ele sobre A Fábrica de Nada, selecionado como melhor filme. Eis un extracto do publicado no Sermos Galiza 276.

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photo_camera [Imaxe: Belén Bouzas] Pedro Pinho

2A obra aponta para o debate ao tempo que tenta mostrar uma realidade. Qual a sua intenção?

Acho que pretendo tudo isso, mostrar uma realidade, um tempo, a história de uma personagem, de duas, três ou quatro, um grupo de personagens, e sugerir uma reflexão. E essa é uma parte muito importante e forte neste filme, sugerir uma reflexão. Avançar uma reflexão. Não a concluir nem fechar nada, nem dar as respostas a questões que foram levantadas, mas levanta-las porque a sensação que nós tínhamos nesta altura, durante este período de crise, é que havia uma espécie de orfandade muito grande em relação aos discursos e às ideias, ou seja, as pessoas não sabiam o que pensar nem sabiam o que dizer em face da situação que estavam a viver. Então, havia esta ideia de que nós precisamos falar e precisamos começar a pensar e a conversar sobre essa situação que nos estava a acontecer para procurar perspectivas, alternativas, saídas, opções, e perceber também que se calhar as ideias que herdamos do século XX já não servem, não chegam para encarar o século XXI e por tanto temos que construir novas ideias. E essa é uma parte fundamental do filme, começar a participar nessa reflexão.

E aí o cinema seria como uma plataforma para criar diálogos, chegar às pessoas.

Sim, o cinema para mim sempre foi uma maneira de olhar para um espelho, de olhar para a vida e pensa-la, senti-la. Isso é uma coisa muito importante, eu acho que o cinema muda a vida, pode mudar a vida mesmo em coisas pequenas porque pode mudar os afetos, as expectativas, o entendimento de uma determinada emoção, tudo isso, a partir das experiências. Então, eu acho que é uma ferramenta importante para podermos pensar-nos, é a coisa que mais me atrai do cinema. Por exemplo, estar a ver um filme e de repente perceber que aquilo que te aconteceu três anos atrás pode ser lido doutra forma.

É uma das suas primeiras visitas à Galiza, como está sentindo esta troca cultural?

Para mim é muito importante. É carinho o que existe porque tem essa relação cultural e uma mesma comunidade linguística, mas também é muita pena porque não haja mais laços, mas ligações e acho que, na verdade, estamos muito de costas virados uns para os outros. Mas apesar de tudo, as diferenças linguísticas mesmo com o castelhano não são assim tão grandes, nós portugueses entendemos tudo, e com o galego [risos] partilhamos a mesma língua, é só uma diferença de sotaque. Para mim é muito importante essa proximidade que a história criou. Uma história que não nos pertence, que foi traumática, mas que apesar de tudo criou uma comunidade linguística muito grande que se espalha por muitos continentes. Agora devemos aproveitar isso. Conectar-nos porque epesar de essa história ser difícil, é muito importante para mim poder chegar à Guiné-Bissau, por exemplo, ou atravessar o deserto todo e sentar-me, pedir um bitoque lá do outro lado do mundo e que te sirvam um bitoque. É uma sensação de conexão incrível. Era bom que conseguíssemos unir aquilo que temos em comum, unir histórias diferentes e aproveitar mais e melhor essa troca cultural.

[Podes ler a entrevista íntegra no Sermos Galiza 276, á venda na loxa e nos quiosques habituais]

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