Opinión

Sobre o decrescimento

Até há relativamente pouco tempo, os nacionalistas galegos, tanto de esquerda como de direita, partilhavam a mesma visão materialista da nação. Ambos queriam o desenvolvimento e a industrialização da Galiza, procurando elevar o nível económico dos seus habitantes. Apenas divergiam quanto ao método mais eficaz para alcançar esse objetivo, ou seja, o capitalismo ou o socialismo. Ambos exibiam as conquistas relativas dos países que lhes serviam de modelo, os do bloco capitalista ou os do bloco socialista, e gabavam-se dos resultados de crescimento obtidos por cada um deles e, sobretudo, queriam adaptar esses modelos à Galiza. Uma Galiza próspera, pacífica e, naturalmente, com salários elevados, como salientou o senhor Mera no seu editorial do outro dia.

A queda do comunismo deixou apenas um modelo económico e os esquerdistas, movidos pelo seu anticapitalismo, procuraram referências noutros lugares e encontraram-nas, entre outras, em certas variantes do ambientalismo. O problema é que estas ideias não foram concebidas para serem aplicadas à escala nacional, mas têm também uma base internacionalista e, embora possam ser adaptadas, fazem-no de uma forma algo forçada. 

As realidades climáticas ou ambientais não compreendem culturas ou línguas e são uma ideologia muito mais globalista do que o neoliberalismo. A consequência é que as agendas verdes foram assumidas com grandes custos para a nossa agricultura, para a indústria de energia intensiva e, se a situação se mantiver, para a indústria do automóvel. Para não falar dos custos sociais da implementação das energias renováveis. Evidentemente, somos nós que suportamos a maior parte dos custos, para satisfação dos ambientalistas urbanos da capital que os vêem à distância. Gostaria de saber quantas fontes de energia eólica ou "limpa" foram instaladas na capital do reino. O problema é que muitas destas políticas não foram debatidas no seio do nacionalismo, aliás, e certamente pouco foi feito para as adaptar à realidade galega.

Isto está relacionado com os debates sobre o decrescimento, que também começam a ter lugar no seio do nacionalismo galego, como se reflecte neste jornal. Trata-se de um dos debates mais interessantes do anticapitalismo moderno e, dadas as suas conclusões pessimistas, não tenho dúvidas de que terá seguidores entre muitos nacionalistas, já de si propensos ao negativismo. 

Sem discutir esta ideia, que penso que se baseia em princípios como o esgotamento dos recursos, que ainda não foram provados, a questão é que se fossem implementadas medidas neste sentido, elas não afetariam todos os territórios nem todos os sectores económicos de forma igual. Por outras palavras, haveria perdedores e até vencedores do decrescimento. 

Por exemplo não afeta a indústria da mesma forma que os sectores mais desmaterializados, como os associados ao mundo digital, pelo que intuo que a sua adoção obrigaria nações como a nossa a suportar de novo a parte de leão dos custos. E penso que isto deveria ser discutido, pelo menos, em ambientes nacionalistas. 

Conta-se que uma vez foi proposto a Bismarck que introduzisse o socialismo na Alemanha. Ele disse que achava que era uma boa ideia, mas que devia ser experimentada primeiro nas províncias polacas para ver se funcionava. Penso que, desta vez, deveria ser a vez de outros desfrutarem primeiro das bondades do decrescimento.

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