Opinión

O negativismo no nacionalismo

Não sou, de forma alguma, um especialista em comunicação ou marketing político, mas por necessidades de organização docente já fui responsável de impartir aulas nesta área do conhecimento, pelo que tive a oportunidade de ler e estudar os principais autores desta disciplina. Com eles aprendi a importância de saber modular um discurso político de acordo com o público que queremos atingir com a nossa mensagem. No caso que nos afeta, gostaria de discutir a comunicação de ideias nacionalistas, não de um partido específico, mas do que vejo em geral no nosso mundo. E o que vejo é uma presença excessiva de negativismo no discurso, que poderia ser correto noutras circunstâncias culturais ou históricas, mas que, na minha humilde opinião, não se adapta bem à mentalidade da maioria do nosso país e daí a relativa falta de sucesso na comunicação de princípios. Para simplificar, creio que o discurso nacionalista não se dirige ao povo galego real, mas a uma espécie de povo galego ideal que vive sobretudo na mente dos seus teóricos. E não conhecer o destinatário significa que as mensagens não passarão ou, pior ainda, passarão, mas serão entendidas de uma forma antagónica à esperada. 

Alguns exemplos podem ser dados. A visão popular (não a académica) da história da Galiza oferecida pelo nacionalismo contemporâneo é a de uma soma de derrotas contra o imperialismo castelhano. A Galiza foi colonizada durante séculos, politicamente oprimida e os seus recursos saqueados e pilhados por potências externas, antes espanholas e agora também multinacionais. Suponho que no espírito desta história está a ideia de que o povo galego reagirá contra a submissão, quebrará as cadeias e alcançará a sua libertação. É um discurso inspirado no anti-colonialismo dos anos 60 ou em revoltas como a irlandesa. Procura despertar a consciência e, consequentemente, uma reação contra o opressor. Mas muitos dos nossos cidadãos têm uma leitura diferente. Aceitam o argumento e pensam que uma nação tão fraca que é subjugada por um inimigo tão fraco como o espanhol pode ter pouco do que orgulhar, e que o melhor a fazer em qualquer caso é assimilar-se ao colonizador. Se não lhe são oferecidos motivos de orgulho, o normal é demitir-se. 

Outro exemplo poderia ser o tratamento da política linguística. O tratamento que o nacionalismo dá à língua não é propriamente muito positivo. É comum apresentar a nossa língua como minorizada, marginalizada ou reprimida, e os seus falantes sujeitos a todo tipo de discriminação. É comum encontrar nos nossos meios de comunicação notícias de que uma pessoa é maltratada por querer expressar-se em galego nesta ou naquela administração ou empresa.

A consequência é que muitos galegos pensarão que, se falarem a sua língua, terão problemas e, logicamente, atuarão em conformidade. Indo ao âmbito da esquerda, para defender os serviços públicos como o da saúde, costuma-se destacar as suas deficiências, como a falta de pessoal ou de recursos, os recortes e o seu desmantelamento, com a consequência de que se reforça a crença de que os serviços públicos funcionam mal e que, se puderem, optam pelo sector privado. E assim por diante. Não será necessário discutir se esta é a melhor forma de comunicar no âmbito do nacionalismo?

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