Inovacionismo emancipador?

O inovacionismo é definido pelo professor Marcos Barbosa de Oliveira, como "o movimento que postula a produção de inovações como função primordial da pesquisa científica, entendendo por 'inovação' as invenções rentáveis, que podem ser implementadas por empresas, contribuindo para a maximização de seus lucros". Com diferentes conotações ao longo da história, inicialmente negativas, como heterodoxia e heresia, e posteriormente associadas ao progresso político e social após a Revolução Francesa, a inovação passou estar vinculada à economia, que encara o processo inovador como sequência, desde a pesquisa básica até a disseminação comercial, tornando-se uma parte essencial dos procedimentos empresariais e das políticas públicas. O conceito de inovação é frequentemente associado à ideia de voluntariedade e direcionamento no processo de mudança tecnológica, mas principalmente à finalidade comercial do resultado obtido. Por isso, a inovação implica rentabilidade, sendo este o principal parâmetro para avaliar sua eficácia. Também está ligada à ideia de inevitabilidade, pois torna o caráter disruptivo da mudança tecnológica em um imperativo, desconsiderando as bases sociais e as estruturas de poder subjacentes. De fato, muitas iniciativas destinadas a estimular a produção de inovações têm fracassado devido a fatores estruturais, como o papel primário-exportador desempenhado pelos países periféricos na divisão internacional do trabalho. Neoliberalismo Propugna-se uma interpretação limitada do avanço tecnológico, que se concentra nos produtos de última geração no campo da eletrônica e das tecnologias da informação, ignorando a relevância social de numerosos objetos de uso cotidiano, da melhoria de tecnologias existentes, de atividades de manutenção e reparação, bem como das infraestruturas convencionais de transporte, comunicações, suprimentos ou saneamento, entre outros, indispensáveis para o funcionamento da sociedade, priorizando apenas as redes digitais. Além disso, é uma orientação específica da doutrina econômica neoliberal, que prioriza a competência e a intervenção do Estado sobre o intercámbio e o laissez-faire liberais, conectando a inovação ao crescimento econômico. O neoliberalismo não busca mitigar as consequências anti-sociais do mercado, mas sim eliminar os obstáculos à competição, transformando a desigualdade em condição indispensável para a competência. Política e inovação entrelaçam-se, acreditando no potencial emancipatório das tecnologias da informação, que possibilitam a criação de uma comunidade interconectada, ligada ao "comunalismo", amálgama de determinismo tecnológico e individualismo anarcocapitalista, que substitui política e ciência económica por engenharia, contracultura por disrupção tecnológica, burocracia estatal por tecnológica e democracia por tecnocracia. Pilares ideológicos originários de Silicon Valley, onde são desenvolvidos os mais recentes gadgets digitais e estabelecidos padrões de uso, predominantemente individualista, influenciando a nossa subjetividade coletiva global. Promove o solucionismo tecnológico a privatização da atividade científica e descarta alternativas sociais de emancipação O inovacionismo, sobrepondo-se ao ideário antigovernamental, que não questiona a exploração laboral nem colonial, torna-se uma nova dimensão do neoliberalismo, priorizando a privatização da pesquisa científica. A ciência é vista com desconfiança pelo neoliberalismo, sendo mercantilizada para influenciar a seleção dos objetos de pesquisa e aproximar inovação do empreendedorismo. O solucionismo tecnológico promove a privatização da atividade científica e descarta alternativas sociais de emancipação, depositando na tecnologia a capacidade de resolver problemas sociais complexos. No entanto, é válido questionar: os eletrodomésticos, por exemplo, foram capazes de libertar a mulher do trabalho doméstico na década de 1980? Nos últimos anos, surgiram críticas ao enaltecimento neoliberal da suposta emancipação tecnológica. Considerada parte do problema mas também da solução, propõe-se uma reorientação da pesquisa científica e tecnológica para áreas como ciências humanas, ciência básica, inclusão social e o interesse público. A tecnologia não é suficiente para erradicar a exploração e a desigualdade social e territorial, mas o atual nível de desenvolvimento científico-tecnológico pode contribuir para isso, associado a uma transformação estrutural na implantação tecnológica, adaptação formativa e redefinição de processos e objetivos, com ênfase na socialização da capacidade produtiva e distribuição equitativa do aumento da produtividade.