Entrevista

Jon Amil (AGAL): "A lusofonia é muito mais que Portugal e o Brasil"

Jon Amil (Vigo, 1988) é o presidente de AGAL, Associaçom Galega da Língua, entidade que vén de ser recoñecida recoñecida como observadora consultiva na CPLP (Comunidade dos Países de Lingua Portuguesa) nun acordo tomado o pasado xullo. Un paso que abre as portas a toda unha serie de posibilidades.
O recentemente escolhido presidente da Associaçom Galega da Língua, o viguês Jon Amil. (Foto: Cedida)
photo_camera O presidente da Associaçom Galega da Língua, o viguês Jon Amil. (Foto: Cedida)

—Que significa para a AGAL entrar na CPLP?
Significa entrar para o lugar em que temos que estar. Na Associaçom Galega da Língua levamos mais de 40 anos a promover a reintegraçom da nossa língua no espaço que lhe corresponde. Chama-lhe lusofonia, chama-lhe galeguia, chama-lhe espaço galego-luso-brasileiro. O caso é que existe um foro internacional bem constituído que junta todas as falantes da nossa língua a nível mundial, e nós tínhamos que estar aí.

—E que significa para o galego e para a Galiza?
Somos a quarta entidade galega que entra a fazer parte da CPLP, depois do Consello da Cultura Galega (CCG), a Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) e a Docentes de Português na Galiza (DPG). Quantas mais vozes galegas existirem no seio da CPLP, mais visibilidade terá o nosso país e mais oportunidades teremos de estabelecer conexões e colaborações. A Galiza só tem a ganhar a todos os níveis: cultural, social, económico…

—O status de Observador Consultivo permite fazer parte de reuniões temáticas e ter acesso prioritário a acordos com o organismo internacional. Já pensou a AGAL nos primeiros passos a dar?
E nom quereredes que fagamos spoilers, ou? Temos pensadas cousinhas para o próximo ano, mas teredes que esperar ainda uns meses para poder ver. Para além disso, a AGAL vai começar a estabelecer parcerias e acordos com outras associações pertencentes à CPLP. O reintegracionismo tem-se virado muito para Portugal e, em menos medida, para o Brasil, mas a lusofonia é muito mais do que isso.

O galego é uma porta aberta que nos permite aceder a uma multitude de culturas, de países, de pessoas e mesmo de línguas mui diversas. Queremos mostrar essa diversidade na Galiza, e queremos dar a Galiza a conhecer nesses espaços. Nesse sentido vam ir os nossos próximos passos.

—A Galiza tem uma ferramenta conhecida como Lei Paz-Andrade. Como valoriza a AGAL o seu desenvolvimento?
A Lei Paz-Andrade, que acabou de fazer dez anos, foi um ponto de inflexom mui importante. Foi um acordo unânime entre todas as forças políticas galegas, foi um consenso enorme poucas vezes visto. Nesse sentido, temos muito orgulho.

Porém, o seu desenvolvimento nesta década foi mui tímido, pouco ambicioso e insuficiente. O número de estudantes de português, do padrom português da nossa língua galega, é por volta de 5.000 (0,17% da populaçom galega). Só temos que comparar esta cifra com as 15.000 pessoas que o estudam na Estremadura espanhola (1,5% da populaçom estremenha) para ver que algo estamos a fazer mal. E em que ficou a receçom dos canais de TV e rádio portuguesas na Galiza? Quando vai chegar o Observatório da Lusofonia? Temos ainda tanto por fazer.

—Que propõe o reintegracionismo para reverter a atual situaçom da língua na Galiza?
Ouvimos constantemente as limitações do galego, e poucas vezes as imensas oportunidades que nos oferece. As variedades brasileira e portuguesa da nossa língua complementam a nossa variedade galega, chegam onde nós nom damos chegado ainda.

Por colocá-lo em perspetiva, vamos fazer um paralelismo. Se uma pessoa castelhanofalante de Espanha nom encontra um conteúdo na sua variedade linguística, o normal é acudir à variedade da América Hispana. Ninguém em Espanha é alheia às dobragens hispano-americanas (¡Busca lo más vital, no más!) ou à música daquelas zonas (En la guagua se quedó el olor de tu perfume). Pois bem, o equivalente para nós é o português do Brasil, o galego tropical. Se recorrêssemos a ele com naturalidade, veríamos que o galego está presente em lugares em que nunca imaginaríamos. Isso dá uma imensa autoestima. Fai ver que, como dizia Castelao, falamos uma língua extensa e útil.

E estas oportunidades existem em ambos os sentidos. As pessoas que fam vídeos em galego nas redes, quando se demarcam dentro do âmbito espanhol, nom deixam de receber comentários de que “¿Por qué hablas en gallego? ¡En castellano te entenderíamos todos!”. Porém, só é preciso sair dessa borbulha e lançar-se ao público lusófono, para ter centos de comentários do tipo “Que idioma lindo! Percebi tudo!” ou mesmo “É mais fácil de entender para mim, brasileira, do que o português de Portugal!”. Que tipo de comentários som os que vam animar as pessoas a fazerem cousas em galego? Qual é o público natural a que podemos chegar na nossa língua?

—Porque grande parte das pessoas galegas, mesmo as galegofalantes, continuam a ver a comunidade lusófona como algo “alheio”? Que se pode fazer para mudar essa visom?
A explicaçom é bem simples: falta de exposiçom. Se estivéssemos mais expostas ao resto de variedades da nossa língua e às suas culturas, veríamos como claramente é o mundo ao qual pertencemos. Só há que olhar para as míticas listas de “palavras que só se usam na Galiza”. Quais som as nossas palavras mais “exclusivas”? É só ler um folheto de segurança qualquer num aviom para ler, na versom em português, que é proibido “levar crianças no colo”. Ou assistir a cinema brasileiro para ver o logo de produtoras como “Lusco Fusco Filmes”. Se mesmo a Galinha Pintadinha, desenhos animados infantis feitos no Brasil, tem uma versom do Alecrim Dourado! O Alecrim Dourado que cantava Ana Kiro no Luar!

A língua serve para comunicar, e o que fai falta é isso, comunicaçom. Quanto mais contacto tivermos com o resto de variedades da nossa língua no mundo, mais nos encontraremos a nós mesmas nelas.

Comentarios