Suso Sanmartinho: "Como no antigo Reino do Hawai, sejamos mais patriotas! Isso sim, sem ódio nenhum e com muito Aloha!"

'Sempre en Waikiki' (Toxosoutos) é o libro que vén de publicar Suso Sanmartinho, polifacético bueués que plasma nesta obra experiencias e reflexions a raíz da súa estancia nesta illa. 

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photo_camera Suso Sanmartinho en Hawai. (Foto: Suso Sanmartinho)

Que é 'Sempre em Waikiki`? Memorias? Libro de viaxes? Reflexions políticas e vitais cun 'lei' ao pescozo? Nada do anterior ou todo iso e máis?

Permite-me que, como bom galego, responda à tua primeira pergunta com outra pergunta. A pergunta (múltipla) não será por acaso uma piscadela de olho ao “Teste sobre o Hawai'i (conhecimentos prévios)” que eu coloco ao início do meu livro (págs. 45-46), pois não? Se assim for, a resposta correta seria sempre a última! [Risada]. Seja como for, “Sempre em Waikiki” (subtitulado “Memórias Havaianas dum Soberanista Galego”) é com efeito, “todo isso e mais”. Como digo no prefácio intitulado “aviso aos navegantes”, se o “Sempre em Galiza” de A. R. Castelao é uma obra de ensaio político, o meu “Sempre em Waikiki” – cujo título é uma evidente paródia da também chamada “Bíblia do Nacionalismo Galego” (BNG) – seria, se acaso, um ensaio de humor político (ou poli-humor).

Como naceu a idea deste libro?

Pois nasceu um bom dia que, passeando sozinho na minha cidade (Honolulu), no meu bairro (Waikiki), onde por motivos de trabalho e estudo tive a fortuna de viver durante o primeiro trimestre de 2019 (Inverno), me ocorreu a ideia do título. Pensei que era bom de mais como para não aproveitá-lo [Risada]. Eu tenho por costume anotar numa caderneta (ou no pimeiro que tiver a mão) as “paridas” que me ocorrem. Também tinha outros materiais (composições escritas como deveres de casa para aulas de inglês, um ou outro post de Facebook...) com os que começar a armar o livro. Depois aconteceu a minha epifania monárquica e aí, sim. Aí já decidi que tinha era que escrever o livro!

Como é iso de ir ao Pacífico e voltar "reconvertido un defensor do reino da Galiza"?

Pois foi realmente surpreendente, nunca melhor dizendo. Embora bastante desiludido já, antes de ir no Hawai'i eu era um 'nacionata', um 'indepe' de esquerdas. Eu militava na esquerda republicana galega. Mas ao descobrir que o movimento soberanista havaiano dos 'kanaka maoli' (nativos havaianos) era monárquico e visava a restauração da independência do seu antigo reino (ilegalmente derrocado em 1893 com a inestimável ajuda do amigo norte-americano) pensei que, salvando as distâncias que vão do Atlântico ao Pacífico, o nosso caso era parecido (embora eu não compartilhe essa opinião, costuma a dizer-se que o Reino da Galiza desapareceu em 1833 com a divisão provincial de Javier de Burgos) e que, sem prejuízo de que poida haver também republicanos galegos – tem que haver de tudo! – na Galiza deveria haver um movimento monárquico organizado que visasse a restauração do antiquíssimo reino fundado nos alvores do século V polos nossos pais suevos.

Este libro terá continuación ou será xa non un punto e aparte mais un punto e final?

O tema havaiano – matéria que, já agora e se não me enganar, permanecia inédita na nossa literatura – não está esgotado, nem muitíssimo menos! Mas não entra dentro dos meus planos escrever um “Livro IV (Ka Puke Hā)” que, como aconteceu a partir da segunda edição (póstuma) do “Sempre em Galiza”, dê continuidade aos três livros (Ka Puke Mua, Lua & Kolu), que na atualidade compõem “Sempre em Waikiki” numa eventual reedição revista e ampliada.

Porém, como se diz na pequena bio do autor (escrita com profusão de palavras precedidas do prefixo “poli-”) na contra-capa do livro: “gostaria de que este Sempre em Waikiki fosse a poliédrica primeira pedra de todoa uma obra consagrada às relações (reais ou quimérico-republicanas) entre a Polinésia e o Reino da Galiza”. A sorte ou o azar quis que a pandemia global da COVID-19 me apanhasse em Aotearoa New Zealand e que tivesse que ficar lá durante ano e meio (seis vezes mais dos três meses inicialmente previstos). A quantidade e qualidade das memórias acumuladas durante tão prolongado período de tempo foi, como podes imaginar, enorme e mereceriam que escrevesse um livro sobre elas. Ou vários.

No libro hai humor, en distintas doses e de distinto tipo, pero tamén hai tempo para a reflexióm. Como o combinas?

That´s a really good question! Em “Sempre em Waikiki” deito mão do humor – numa escala que vai do “humor infame”, como diria o meu admirado amigo Carlos Meixide, a um humor quero pensar mais inteligente – para falar de assuntos que para mim são muito sérios: Deus, Pátria, Reino... É a marca da casa. Não saberia nem poderia fazê-lo doutro jeito ainda que quisesse.

Divertido não é o contrário de sério mas de aborrecido, como diria o outro. Um outro grande humorista na nossa língua a quem também admiro muito, o Ricardo Araújo Pereira (RAP), diz no seu delicioso último livro (e podcast) intitulado “Coisa Que Não Edifica Nem Destrói” que o humor “sendo embora mais do que passatempo” é “sempre menos do que apostolado”. O RAP diz ainda que “a disposição humorística é avessa a grandes aspirações e inclina-se a considerar pretensiosa – e até ridícula – a intenção de edificar” nada. Talvez vítima dalgum tipo de delírio messiânico (mais um dos vários transtornos da personalidade não diagnosticados que devo estar a sofrer) com este livro pretendo fazer apostolado monarquista galego. Como se resolve esta aparentemente incompatibilidade entre humor e apostolado, tão inteligentemente apontada polo RAP? Pois muito simples: séndomos galegos! [Risada].

Que debemos aprender os galegos dos nativos hawaianos?

Os nativos galegos, igual aos havaianos, somos bastante amantes da nossa Terra. Mas os galegos somos também bastante afeiçoados a mover os marcos e com demasiada frequência ultrapassamos a linde entre o amor e o ódio (eucaliptização, deserção linguística, canibalismo urbanístico...). Os 'kanaka maoli' têm na sua cultura um conceito precioso: Aloha ʻĀina (“Amar a Terra” ou “Amor pola Terra e as suas gentes”, cousa que se pode traduzir e traduz por “patriotismo”). Como no antigo Reino do Hawaií, sejamos mais patriotas! Isso sim, sem ódio nenhum e com muito Aloha!

Por que debería a xente animarse a ler 'Sempre en Waikiki'?

Pois porque tem um título boíssimo e uma capa preciosa também, obra do grande Rubén Prol (a partir duma ideia do autor). E porque o seu conteúdo, ao menos isso espero, tampouco está assim tão mal! [Risadas]. Não, agora falando a sério. Pois para iniciarmos a conversa sobre a necessidade de restaurarmos o Reino da Galiza como única via realista para conseguirmos a emancipação nacional.

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