O trabalho como fonte do valor

Segundo os últimos dados do IGE sobre distribuição funcional da renda, o peso da remuneração dos assalariados no PIB tem caído na Galiza, de 48% em 2009 para 42,8% em 2023. Uma diminuição de 5,2 pontos percentuais, enquanto no Estado caiu apenas 1,7 e na UE 0,9 no mesmo período, situando o peso dos salários galegos abaixo dos estatais e europeus. Mas quem é que produz a riqueza na nossa sociedade? Teorías do valor Nos últimos séculos, surgiram diversas teorias sobre a origem do valor e o preço das mercadorias, cada uma com suas próprias perspectivas e fundamentos. A Teoria do Valor-Trabalho (TVT) é uma das mais antigas. Foi desenvolvida principalmente por Adam Smith, David Ricardo e Karl Marx. Tem caráter objetivo, intrínseco e quantitativo, porque afirma que o valor provém da quantidade de trabalho socialmente necessário para obter uma mercadoria, sob determinadas coordenadas sociais e nível de intensidade e qualificação do trabalho, e esse valor intrínseco adota a forma de valor de câmbio, que, como materialização do valor de uma mercadoria, exprime a proporção de outras mercadorias pelas quais poderá ser intercambiada no mercado. Inclui o tempo de trabalho vivo, desempenhado no seu próprio processo de produção, e o trabalho morto ou passado que transmite o valor, incorporado por desgaste ou amortização dos meios de produção, resultado de processos produtivos anteriores. Fica claro quem produz a riqueza nesta sociedade capitalista, outra questão é quem se apropria dela O preço é a expressão monetária do valor de câmbio de uma mercadoria, mas no mercado não se cria valor, redistribuem-se valores preexistentes. A extração do valor social depositado numa mercadoria por meio da sua venda no mercado é um processo não assegurado a priori, no qual uns podem ganhar e outros perder valor, e no qual os preços finais resultantes tendem a convergir ao redor do valor. A TVT explica a relação social que se oculta por trás do intercâmbio de objetos, das mercadorias. A Teoria do Valor Utilidade surgiu como uma crítica à TVT, desenvolvendo-se no final do século XIX com a Marginal Revolution. Seus principais defensores foram William Stanley Jevons, Carl Menger e Léon Walras. Sugere que o valor de um bem depende da satisfação adicional que ele proporciona ao consumidor. Ao contrário da TVT, que é objetiva, a Teoria do Valor Utilidade é subjetiva, pois o valor depende das preferências individuais e das necessidades dos consumidores. Por outra banda, a Teoria do Valor Subjetivo, associada à escola austríaca de economia de Ludwig von Mises e Friedrich Hayek, como extensão da Teoria do Valor Utilidade, enfatiza a subjetividade do valor. Argumenta que o valor é determinado exclusivamente pelas percepções e preferências individuais dos consumidores, subjetivas e variáveis. O mercado é visto como um mecanismo de descoberta de preços, onde a interação entre oferta e demanda revela as valorações subjetivas dos consumidores. Contrate teórico A diferença das teorias subjetivas e utilitaristas, que utilizam uma variável subjetiva para estabelecer a proporção de intercâmbio entre mercadorias, que é um rácio quantitativo, a teoria laboral do valor marxista oferece uma explicação profunda e completa da origem e função do valor, dado conhecido pelos produtores para determinar os preços no mercado, que só depois podem oscilar de forma limitada em função da procura. A teoria laboral do valor é a única teoria do valor mercantil dotada de coerência, não eclética, e que utiliza o triplo critério de aceitação provisória na ciência: a constatação lógica, a teórica e a empírica. Em contraste com a economia convencional, que se limita a estudar como se determinam os preços na esfera da distribuição, obviando as relações que subjazem na produção e considerando o lucro capitalista como um rendimento do capital total, ao qual se atribui um certo caráter 'produtivo'. Como apontava o professor Paul Sweezy, a economia convencional persiste no estudo das variações e do repartimento desse lucro entre empresários e acionistas, sem explicar a sua própria origem. À luz da teoria do valor-trabalho como pedra angular da economia política marxista, fica claro quem produz a riqueza nesta sociedade capitalista. Outra questão é quem se apropria dela, em que proporção e por meio de quais mecanismos, sempre sob uma aparência de livre acordo entre as partes: o poderoso capital, que detém a posse e controle dos meios de produção, e a vulnerável classe trabalhadora, que apenas dispõe de seu intelecto, habilidades ou força física para vender como força de trabalho no mercado.