Ingenio y maña / Enxeño e xeito / Engenho e jeito

Na entrega anterior ficou patente que a ortografia da RAG(=ILG) para o galego é, essencialmente, a castelhana moderna, e, nesta peça e na seguinte, imos analisar os principais efeitos nocivos que, para o nosso idioma, derivam desse facto. Tais prejuízos som de dous tipos, disfuncionalidade e menorizaçom, revelando-se a segunda, como veremos, muito mais lesiva do que a primeira, sem que as distorçons funcionais sofridas sejam, porém, inócuas. 'Disfuncionalidade' Salientamos aqui três categorias de distorçom funcional: a causada por a) a acentuaçom castelhana; b) a falta de uso do hífen, e c), a hipertrofia do x. a) A utilizaçom na ortografia RAG (gal-cast.) da acentuaçom cast. acarreta para o gal. oficialista a falta absoluta de marcaçom gráfica do timbre aberto/fechado das vogais e e o, em contraste com a ortografia gal-port. (ex.: gal-port. figéssemos + comêssemos / gal-cast. fixésemos + comésemos; fôssemos/fósemos, pôr/pór, viguês/vigués). É verdade que a ortografia gal-port. só parcamente assinala tal oposiçom (apenas nos es e nos os tónicos que, conforme as regras, levam acento gráfico, como figérom + comêrom, estômago), mas algumha marcaçom dessa laia é exigida pola lógica ortográfica das línguas románicas que apresentam tal oposiçom fonológica (cat., fr., it.), e a sua ausência no gal. oficialista delata subalternidade a respeito do cast. e priva o nosso idioma de um útil lembrete gráfico da sua genuína prosódia. b) A ortografia gal. oficialista assume servilmente a extrema raridade com que o cast. usa o hífen ou traço de uniom, e tal circunstáncia prejudica a clareza na representaçom escrita dos pronomes átonos enclíticos (que seguem ao verbo), os quais, relativamente escassos em cast., som freqüentíssimos em gal. Assim, surgem em gal-cast. seqüências gráficas pouco claras, em contraste com a maior legibilidade das alternativas gráficas gal-port.: gal-port. comermos + comer-mos / gal-cast. comermos + comermos, di-che + deche / diche + deche(s), lê-se + lesse / lese + lese; observara-a/observáraa; foi-se-nos/fóisenos, dou-vo-lo/dóuvolo, torna-se-nos/tórnasenos; fa-lo + falo / falo + falo, vê-la + vela / vela + vela... Já agora, que triste!: dada a sua praticidade, o cat. copiou ao luso-br. este lógico uso do hífen, enquanto o gal. oficialista prefere dobrar-se ao ditado castelhano! c) A hipertrofia oficialista do x, causada por umha anómala obliteraçom do j e de ge e gi etimológicos, além de isolar o gal. a respeito da generalidade das línguas europeias, e de ser acompanhada de umha escandalosa incoerência estrutural interna (v. peça anterior), acarreta um grave prejuízo para a composiçom lexical erudita, fulcral para a linguagem escrita formal e especializada. Assim, dado que na ortografia RAG os radicais geno- 'engendrar/raça' e xen(o)- 'estranho/estrangeiro' confluem em xen(o)-, no gal. oficialista sabemos que xenocidio significa 'extermínio de umha etnia', e nom 'ato de matar um estrangeiro', só polo costume, nom pola análise constitutiva da palavra (escrita), e já nom podemos ensaiar com eficácia a cunhagem e uso de xenocidio no segundo sentido apontado!; em gal-port. diferencia-se entre heterogenia e heteroxenia, entre gerodermia (ger(o)- 'velho') e xerodermia (xer(o)- 'seco'), mas em gal-cast. confundem-se! Ao lermos um texto oficialista, teremos claro que xenoindución nom tem a ver com xene, xenética e xenótipo? A ortografia galega oficialista assume servilmente a extrema raridade com que o castelán usa o hífen ou traço de uniom Para cúmulo de males, e com o fim de dissimular a sua sobreabundáncia de xis, a RAG recomenda prescindirmos do x etimológico (de valor /cs/) em eruditismos em que, de acordo com as normas oficialistas, também deve surgir um x antietimológico de valor /ʃ/ (esóxeno, osíxeno). Este aberrante alvitre distorce até ao paroxismo a análise compositiva dos vocábulos (exógeno é formado por exo- 'exterior' e -geno 'nascido', mas *esóxeno parece derivar de eso- 'interior' e -xeno 'estranho'!) e, no caso de *osíxeno (correto: oxixenio), até podemos detetar umha crassa incoerência: se a RAG propom osíxeno, entom também teria de propor, na mesma série, em vez de óxido, oxidar e oxidación, respet., as formas ósido, osidar e osidación (!). Enfim, umha outra disfuncionalidade suscitada polo abuso oficialista do x é que, assim, indevidamente entregamos na Galiza a exclusividade do j e de ge e gi ao cast., com o efeito perverso de fomentarmos na prática a realizaçom fónica com jota castelhano dessas legítimas grafias quando histórica e atualmente presentes em apelidos galegos: Gestal, Giraldes, Janeiro, Juncal, Queijeiro... E, assim, coitados de nós, nos últimos lustros, os locutores da RG/TVG nom param de assovelar-nos os ouvidos com um tal Feikhó!